Como tantas outras datas comemorativas, o Dia Internacional da Mulher é hoje só mais um pretexto para comerciais temáticos, felicitações mecânicas e todo aquele protocolo de praxe. O chefe dá uns bombons aqui, o maridão vem com flores, o Facebook é só meiguice, rola descontinho nas lojas de cosmético e por aí vai.
Foto: Divulgação / Arte: Ile machado
Lógico que todo mundo – mulheres e homens – gosta de ser mimado de vez em quando, mas a questão aqui é outra. É sobre o quão vazio de significado se tornou a coisa toda. Pois, afinal, o que a gente comemora nessa data? É só um dia criado para desencalhar rosas nas floriculturas? Errrr… não.
Então bora falar um pouco sobre história. Como o nome já diz, o 8 de março é uma data internacional e a sua origem tem a ver com sofrimento e luta por direitos. Neste dia, em 1857, houve uma grande greve numa fábrica de Nova York por parte de operárias que pediam melhores condições de trabalho. Elas pararam a fábrica exigindo redução da carga horária (que era de 16 horas por dia) e pagamento digno (pois faziam o mesmo trabalho que os homens e ganhavam um terço do salário).
Em resposta, essas mulheres foram trancadas dentro da fábrica e o prédio foi incendiado. Estima-se que 130 operárias morreram carbonizadas naquele dia. Mais de um século depois, em 1975, a ONU oficializou o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, em homenagem às vítimas da chacina.
Filme “A saída da Fábrica”
Trecho extraído do site: www.falauniversidades.com.br:
1910: Na Europa, Clara Zetkin, professora, jornalista e política marxista alemã, propõe em reunião da Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas a criação de um dia em que as mulheres do mundo todo deveriam se unir para dar voz às suas lutas e reivindicações.
Clara Zetkin / Foto AKG imagens
1911: A proposta de Zetkin, que incluía uma jornada anual de manifestações por direitos iguais, pelo direito de votar e pelo socialismo é aprovada e culmina no primeiro dia oficial da mulher, comemorado, a princípio, no dia 19 de março, posteriormente sendo reajustado para o dia 8 de março – data que permanece até hoje.
Foto: Reprodução
Com Alexandra Kollontai e Rosa Luxemburgo, Clara propõe a criação de uma jornada de manifestações anualmente, conhecido hoje como o 8 de março. Foto: Reprodução
Mas quantas pessoas conhecem o real significado dessa data? O que dizem as homenagens impressas em papel cor de rosa que nós recebemos todos os anos do RH? “As mulheres constituem a metade mais bela do mundo – Jean-Jacques Rousseau” ou algo que o valha. Já reparou como as felicitações do dia 8 de março adoram enaltecer o nosso papel decorativo no mundo? É uma ode à nossa feminilidade, sempre associada a batom e salto alto. Experimente fazer uma rápida pesquisa no Google Imagens, ou mesmo no seu feed do Facebook.
Reprodução: Dolce & Gabana
Só que na essência essa data carrega um significado totalmente diferente. Na real, devia ser um dia para que a gente justamente questione essa idealização do que é ser uma mulher digna de homenagens.
Esse também deveria ser um dia para que a gente reflita um pouco sobre as lutas diárias. Sobre os incêndios simbólicos que ainda temos de enfrentar. Sobre o fato de que as mulheres estão lutando há séculos, e de que muito já foi conquistado, mas ainda há muita luta pela frente. É também sobre a importância do coletivo. Tem mulher que “chegou lá” e que já não precisa mais reclamar o salário injusto. Mas teve mulher que queimou na fogueira para que as coisas mudassem. E tem mulher que ainda queima! Seja no chão de fábrica, no relacionamento abusivo, na maternidade compulsória, na culpabilização pós-estupro, no assédio diário…
Youtube/Miguelito S
Lógico que essa é uma reflexão para ser feita todos os dias, mas já que temos uma data para simbolizar a nossa história de lutas, então que ela seja honrada à altura. Pois bem, mundo: valeu pelas flores, mas ao invés de um simples (e passivo) “obrigada”, a gente tem muuuuuito mais a dizer. E a fazer!
Fonte: Por Júlia Warken – Publicado em 8 mar 2017 em:
https://claudia.abril.com.br/sua-vida/nao-precisa-me-dar-flores-nesse-8-de-marco/
Com edição: Rogério Novaes – Imprensa BancáriosRP
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